A impressão que tive do cantor, compositor e violonista mineiro João Bosco foi a melhor possível. Quando as rádios de São Luís começaram a tocar sua música de alta qualidade percebi que violão e voz pareciam almas siamesas.
Era início dos anos setenta e muita gente boa surgia. Via festivais da canção ou por meio de trilhas sonoras globais. João de barba trazia um violão ritmado e cada nota obedecia fielmente aos improvisos vocais com graça e criatividade. Balanço nem se fala. Com uma rapidez extraordinária, nenhum espaço vazio ficava nos limites do conceito de música: melodia, ritmo e harmonia eram íntegros.
A letra e a música de “O mestre sala dos mares” traziam a história além de ritmo e uma percussão casada com um violão de tirar o fôlego:
“Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre sala
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas
francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
...
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos
jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras
Pisadas do cais.”
(João Bosco e Aldir
Blanc)
Cavaquinho, violão, pandeiro, tamborim e outros instrumentos se juntam para transformar essa canção numa das pérolas da nossa música popular brasileira.
Uma dia, lá pelos anos 80, vindo da Praça XV atravessava a Baía de Guanabara indo para Niterói e escutei no alto a voz de Elis Regina mandando bem nesta canção. No final pude ver de perto as pedras pisadas do cais e tive saudade da boa música que ouvia em São Luís. Cantei baixinho enquanto a barca deslizava pelas calmas águas: “Mas faz muito tempo”.
Essa música é muito especial e marcante para mim. Era uma das músicas favorita do Serginho. Ele adorava canta-la, e ficava a dançar do seu jeito desengonçado, todo feliz. A interpretação da Elis Regina é maravilhosa, e ficou eternizada.
ResponderExcluirQue bom. Serginho será sempre especial como essa música na minha vida. Foi a primeira de João que eu prestei atenção e entrou para sempre no meu repertório. Canto sempre quando sinto saudade do Rio e das pedras pisadas no cais. Elis também deixou saudade.
ResponderExcluir