sábado, 11 de julho de 2020

“O mestre sala dos mares”. O João das Minas Gerais.

A impressão que tive do cantor, compositor e violonista mineiro João Bosco foi a melhor possível. Quando as rádios de São Luís começaram a tocar sua música de alta qualidade percebi que violão e voz pareciam almas siamesas.

Era início dos anos setenta e muita gente boa surgia. Via festivais da canção ou por meio de trilhas sonoras globais. João de barba trazia um violão ritmado e cada nota obedecia fielmente aos improvisos vocais com graça e criatividade. Balanço nem se fala. Com uma rapidez extraordinária, nenhum espaço vazio ficava nos limites do conceito de música: melodia, ritmo e harmonia eram íntegros.

A letra e a música de “O mestre sala dos mares” traziam a história além de ritmo e uma percussão casada com um violão de tirar o fôlego:

 

“Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo feiticeiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como o navegante negro

Tinha a dignidade de um mestre sala

E ao acenar pelo mar

Na alegria das regatas

Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas ...

 

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias

Glória à farofa, à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias

Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro

Que tem por monumento as pedras

Pisadas do cais.”

(João Bosco e Aldir Blanc)

Cavaquinho, violão, pandeiro, tamborim e outros instrumentos se juntam para transformar essa canção numa das pérolas da nossa música popular brasileira.

Uma dia, lá pelos anos 80, vindo da Praça XV atravessava a Baía de Guanabara indo para Niterói e escutei no alto a voz de Elis Regina mandando bem nesta canção. No final pude ver de perto as pedras pisadas do cais e tive saudade da boa música que ouvia em São Luís. Cantei baixinho enquanto a barca deslizava pelas calmas águas: “Mas faz muito tempo”.


2 comentários:

  1. Essa música é muito especial e marcante para mim. Era uma das músicas favorita do Serginho. Ele adorava canta-la, e ficava a dançar do seu jeito desengonçado, todo feliz. A interpretação da Elis Regina é maravilhosa, e ficou eternizada.

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  2. Que bom. Serginho será sempre especial como essa música na minha vida. Foi a primeira de João que eu prestei atenção e entrou para sempre no meu repertório. Canto sempre quando sinto saudade do Rio e das pedras pisadas no cais. Elis também deixou saudade.

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