domingo, 19 de julho de 2020

“Foi Deus” com Agnaldo Timótheo. E Deus criou o vento e a voz.

Um dos maiores cantores que conheci emociona pelo timbre, potência vocal e estilo. Para os puristas conceituais ser brega se confunde com ser raso. Não ter profundidade é uma questão de ponto de vista, mas sensibilidade não. É mais pessoal que coletivo.

Nas minhas impressões musicais teimo em ser puro e não necessariamente raso. A emoção que trago é produto de tudo que ouvi ao longo de quase seis décadas de vida. Ouvi pela primeira vez uma canção que vinha de um pequeno bar da Rua Dias da Cruz. Ficava no Méier, zona norte carioca por onde eu perambulava lá em 1979.

A letra e a música vinham bordadas pelo belíssimo timbre do cantor. Na verdade era uma recitação cantada que mais parecia uma oração com um coral que inicia:

“Foi Deus...

Não sei, não sabe ninguém

porque canto fado neste tom magoado de dor e de pranto

e neste tormento todo sofrimento

eu sinto que a alma cá dentro se acalma nos versos que canto

Foi Deus que deu luz aos olhos

perfumou as rosas

deu ouro ao sol e prata ao luar

Foi Deus que me pôs no peito o rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

E pôs estrelas no céu e fez o espaço sem fim

deu luto às andorinhas

Ai e deu-me esta voz a mim...

Foi Deus...

se canto não sei o que canto

misto de ternura saudade ventura

e talvez de amor

mas sei que cantando

sinto mesmo quando

se tenho um desgosto

e o pranto no rosto nos deixa melhor

Foi Deus que deu voz ao vento

luz ao firmamento

e pôs o azul nas ondas do mar

Foi Deus que me pôs no peito o rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar

Fez poeta o rouxinol

pôs no campo o alecrim

deu flores à primavera

Ai e deu-me esta voz a mim...”

Composição: Alberto Janes

O meu coração foi desafiado a ouvir muitas vezes esta canção. Intérpretes outros da MPB colocaram nela voz, mas a emoção da primeira impressão sonora vinda na voz de Agnaldo Timótheo ficou para sempre. Desafio você quando estiver triste e taciturno num cantinho a ouvi-la. Talvez descubra o mesmo que eu descobri. Deus não deu voz só ao vento, escolheu Agnaldo para torná-la humana e chegar até o seu coração. O desafio está lançado e não se perturbe se chorar, faz parte do que mais bonito temos: a pureza da alma. O coração não sabe o que é brega ou não. Ele só entende de amor e de amor Deus também entende.

Paço do Lumiar(MA), quinta-feira,  18 de junho de 2020 às 05h29min01s


2 comentários:

  1. Li está sua crônica na quarta-feira, ou até posso dizer que na quinta-feira mesmo, pois já passava das 0 horas, quase 1 da manhã. Geralmente ao deitar eu costumo ler um pouco, até que o sono me domine. Ler Foi Deus foi uma excelente escolha para aquela noite, após assistir a um Frenético Fla x Flu. É uma belíssima canção, que perfeitamente podemos classificar tanto como uma oração, quanto a uma poesia. Uma poesia em forma de oração, ou vice-versa. E a interpretação do Agnaldo Timótheo só veio a engrandecer ainda mais essa obra prima do Alberto Janes. Me emocionou, li novamente antes de comentar. E comentei no mesmo dia, só que possivelmente não publiquei. Talvez já tomada pela emoção e pelo sono. Agora estou tentando reproduzir o comentário feito no momento da leitura, mas não sei se terei sucesso. Além do que escrevi acima, lembro-me também de ter comentado que minha lembrança dessa canção não vem da interpretação do incrível Agnaldo Timótheo, que conheço, mas não foi a que mais me marcou. E o mais engraçado é-o fato de não me lembrar qual intérprete que mais me comoveu. Quem sabe você possa me ajudar a recordar!
    Nessa mesma noite eu li mais 2 crônicas, a A Saudade que Ficou, e Tempero da Saudade. Também comentei ambas, mas acho que naquela noite só mandei enviar a sua canção, Tempero da Saudade, que conheço do seu CD.

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  2. Li está sua crônica na quarta-feira, ou até posso dizer que na quinta-feira mesmo, pois já passava das 0 horas, quase 1 da manhã. Geralmente ao deitar eu costumo ler um pouco, até que o sono me domine. Ler Foi Deus foi uma excelente escolha para aquela noite, após assistir a um Frenético Fla x Flu. É uma belíssima canção, que perfeitamente podemos classificar tanto como uma oração, quanto a uma poesia. Uma poesia em forma de oração, ou vice-versa. E a interpretação do Agnaldo Timótheo só veio a engrandecer ainda mais essa obra prima do Alberto Janes. Me emocionou, li novamente antes de comentar. E comentei no mesmo dia, só que possivelmente não publiquei. Talvez já tomada pela emoção e pelo sono. Agora estou tentando reproduzir o comentário feito no momento da leitura, mas não sei se terei sucesso. Além do que escrevi acima, lembro-me também de ter comentado que minha lembrança dessa canção não vem da interpretação do incrível Agnaldo Timótheo, que conheço, mas não foi a que mais me marcou. E o mais engraçado é-o fato de não me lembrar qual intérprete que mais me comoveu. Quem sabe você possa me ajudar a recordar!
    Nessa mesma noite eu li mais 2 crônicas, a da canção A saudade que ficou, e a Tempero da Saudade, de sua autoria. Também comentei em ambas, porém somente o comentário da Tempero da Saudade que consegui publicar. Devo ter deixado de mandar enviar no dia.

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