segunda-feira, 26 de outubro de 2020

“Hino ao amor” com Dalva de Oliveira. A Edith Piaf brasileira virou estrela.

Com uma extensão vocal do contralto ao soprano, Dalva de Oliveira fez muito rouxinol morrer de inveja do timbre de voz que encantou o Brasil entre os anos 30 e 60. Mas uma canção da paulista de Rio Claro não fazia minha mãe morrer de inveja. Pelo contrário, ela queria ser a própria Dalva quando soltava a voz, tal eram a admiração e empolgação.

Era “Hino ao amor” cuja letra sofrida de paixão tornava a voz da cantora mais emocionante ainda. Apesar do esforço era difícil atingir o agudo da cantora. Entretanto o sofrimento parecia o mesmo. Dalva, que nasceu Vicentina de Paula Oliveira, tinha ascendência portuguesa e teve vida difícil cujo talento era proporcional às dores. Uma delas a que atormenta a todos: a de amor.

A música, por uma razão que desconheço, me leva às lágrimas até hoje. E olhe que Dalva deixou este mundo para se tornar uma estrela em 1972. Dois anos antes, aos dez anos, eu ouvia a canção com espanto, pois parecia que a cantora estava de fato vivendo aquela situação exposta na letra. Alguém duvida? Tenho a impressão que poesia, canto e emoção estavam no mesmo campo onde quem manda é o coração. Aí quem sabe reside a causa das minhas lágrimas.

O realismo da interpretação me impressionou de tal forma que associei sentimentos e sofrimentos da cantora aos meus. Quando minha mãe também virou estrela em 1983 senti na pele a mesma sensação e na letra encontrei refúgio.


Se o azul do céu escurecer

E a alegria na terra fenecer

Não importa, querido, viverei do nosso amor

 

Se tu és o sonho dos dias meus

Se os meus beijos sempre foram teus

Não importa, querido, o amargor das dores desta vida

 

Um punhado de estrelas no infinito irei buscar

E aos teus pés esparramar

Não importa os amigos, risos, crenças e castigos

Quero apenas te adorar

 

Se o destino então nos separar

Se distante a morte te encontrar

Não importa, querido, porque eu morrerei também

 

Quando enfim a vida terminar

E dos sonhos nada mais restar

Num milagre supremo

Deus fará no céu eu te encontrar.

Composição: Marguerite Monnot,  Edith Piaf e Geoffrey Parsons

Se a talentosíssima Edith Piaf imortalizou “Hino ao amor” num afinadíssimo francês,  a nossa Dalva a imortalizou num emocionante português. No talento, Edith e Dalva não precisarão de um milagre supremo. Timbres inigualáveis na terra e no céu, Edith e Dalva são estrelas. A nossa é a estrela Dalva do Brasil.

Paço do Lumiar (MA) sábado, 04 de julho de 2020 às 10h36min21s

Um comentário:

  1. O talento de uma voz unida em profundidade com a intensidade de emoções numa interpretação musical, com certeza faz a magia do que não se explica, mas pode ser sentido acontecer.

    ResponderExcluir