Era um sábado em 1977 e ao chegar à São Jaime o Zé foi logo dizendo que eu iria assumir a missa das 19 horas na capela. Os cantores e violonistas principais tinham ido a uma excursão da paróquia e não estariam ali. Gelei dos pés à cabeça, pois era só um auxiliar e sabia muito pouco das canções sacras que os mestres já faziam muito bem. A única que sabia tocar bem era o canto de comunhão de Waldeci Farias. “Vem e eu mostrarei” eu já sabia de cor porque Albino e Guilherme tinham me passado e muitas missas em sequência eu os acompanhava como terceiro violonista, mas verdinho e nervoso demais para substituí-los. Tocar acompanhando Albino e Guilherme era uma coisa. Tocar uma missa inteira sozinho era outra coisa. Nós três assumíamos as missas de sábado e as de domingo nos alternando conforme a necessidade, mas sempre juntos. Naquele dia estava só. Tinha a responsabilidade de tocar em todas as missas. O Zé, como chamávamos o padre José Roberto, deu força e tranquilizou dizendo que eu deveria tocar só o que soubesse. Foi o que fiz.
Durante a comunhão soltei o acorde em sol maior e mandei a voz que teimava em não sair tal o nervoso diante de fieis tranquilos e um padre inspiradíssimo:
“Vem,
e eu mostrarei que o meu caminho te leva ao pai
Guiarei
os passos teus e junto a ti hei de seguir
Sim,
eu irei e saberei como chegar ao fim
De onde vim, aonde vou, por onde irás, irei também...”
Inspirado pela confiança em mim depositada por Zé Roberto e ligado na canção, perdi o medo e a vergonha. Tocar e cantar nas missas a partir dali se transformaram num exercício de alegria e satisfação constantes. Passei a copiar todas as letras com cifras e treiná-las à exaustão para evitar novas surpresas. Os sábados e domingos eram aguardados com expectativa e entusiasmo. A Igreja São Jaime no Lins foi a minha escola de canto e violão. Era demais tocar sendo a voz guia de um povo que buscava a Deus nas belas letras e músicas do Waldeci Farias. Ao voltar, Albino e Guilherme descobriram que suas aulas funcionaram. Eu já não era mais o terceiro violão da paróquia. Era mais que um substituto. Era junto com eles o violão principal das missas belamente tocadas e cantadas pela comunidade.
Waldeci Farias nasceu no Ceará em 1943 e foi para o Rio de Janeiro tentar a carreira religiosa no Seminário Franciscano de Petrópolis. Como frade não descobriu a vocação, pois sua música falou mais alto. Com apoio de religiosos seguiu carreira como um dos maiores compositores católicos do país. Suas canções são até hoje interpretadas em missas por todo o Brasil.
Em 2013 uma grande homenagem foi feita no Rio ao artista das canções
sacras. Um tributo a Waldeci Farias foi prestado pelo serviço de divulgar a
palavra de Deus por meio de canções. “Procuro abrigo nos corações”, preferida
do Zé Roberto, e outras como “Este
pranto em minhas mãos”, “Sou bom pastor” e “Sobe a Jerusalém” estavam lá. Sem
contar uma que me fez perder o medo de divulgar a palavra sacra através da
música:
“Vem
e eu te direi o que estás a procurar
A
verdade é como o sol e invadirá teu coração
Sim,
eu irei e aprenderei minha razão de ser
Eu
creio em ti que crês em mim e a tua luz
Verei
a luz...
Vem,
e eu te farei da minha vida participar
Viverás
em mim aqui, viver em mim é o bem maior
Sim,
eu irei e viverei a vida inteira assim
Eternidade
é na verdade o amor
Vivendo
sempre em nós...
Vem
que a terra espera quem possa e queira participar
Com
amor na construção de um mundo novo muito melhor
Sim,
eu irei e levarei teu nome aos meus irmãos
Iremos nós e teu amor vai construir enfim a paz.”
Letra: Pe. Josimar Braga
Música: Waldeci Farias
Waldeci se despediu e foi tocar piano e compor mais perto de Deus. Suas letras e canções me ajudam até hoje, quando toco nas missas, a crer sempre na luz. Sei agora que a verdade é como o sol. Minha razão de ser eu já descobri. Ele mostrou Cristo a mim e ao Brasil. Não estou mais a procurar. Minha voz e violão fizeram da vida de Cristo participar. Ser primeiro ou terceiro não faz mais a menor diferença. Não há nada que substitua a luz.
Paço do Lumiar (MA) domingo, 13 de setembro de 2020 às 10h 57min 18s
Eu também fui ciminarista gosto de muito de músicas sacras ademiro muito quem.canta ou toca um estrumento eu só Seio desenha a cheio maximo essa tu vivencia na igreja muita sabedoria espiritual pro resto da vida
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