quinta-feira, 17 de setembro de 2020

“Vem e eu mostrarei” de Waldeci Farias. O terceiro violão e o substituto.

Era um sábado em 1977 e ao chegar à São Jaime o Zé foi logo dizendo que eu iria assumir a missa das 19 horas na capela. Os cantores e violonistas principais tinham ido a uma excursão da paróquia e não estariam ali. Gelei dos pés à cabeça, pois era só um auxiliar e sabia muito pouco das canções sacras que os mestres já faziam muito bem. A única que sabia tocar bem era o canto de comunhão de Waldeci Farias. “Vem e eu mostrarei” eu já sabia de cor porque Albino e Guilherme tinham me passado e muitas missas em sequência eu os acompanhava como terceiro violonista, mas verdinho e nervoso demais para substituí-los. Tocar acompanhando Albino e Guilherme era uma coisa. Tocar uma missa inteira sozinho era outra  coisa. Nós três assumíamos as missas de sábado e as de domingo nos alternando conforme a necessidade, mas sempre juntos. Naquele dia estava só. Tinha a responsabilidade de tocar em todas as missas. O Zé, como chamávamos o padre José Roberto, deu força e tranquilizou dizendo que eu deveria tocar só o que soubesse.  Foi o que fiz.

Durante a comunhão soltei o acorde em sol maior e mandei a voz que teimava em não sair tal o nervoso diante de fieis tranquilos e um padre inspiradíssimo:


“Vem, e eu mostrarei que o meu caminho te leva ao pai

Guiarei os passos teus e junto a ti hei de seguir

Sim, eu irei e saberei como chegar ao fim

De onde vim, aonde vou, por onde irás, irei também...”

Inspirado pela confiança em mim depositada por Zé Roberto e ligado na canção, perdi o medo e a vergonha. Tocar e cantar nas missas a partir dali se transformaram num exercício de alegria e satisfação constantes. Passei a copiar todas as letras com cifras e treiná-las à exaustão para evitar novas surpresas. Os sábados e domingos eram aguardados com expectativa e entusiasmo. A Igreja São Jaime no Lins foi a minha escola de canto e violão. Era demais tocar sendo a voz guia de um povo que buscava a Deus nas belas letras e músicas do Waldeci Farias. Ao voltar, Albino e Guilherme descobriram que suas aulas funcionaram. Eu já não era mais o terceiro violão da paróquia. Era mais que um substituto. Era junto com eles o violão principal das missas belamente tocadas e cantadas pela comunidade.

Waldeci Farias nasceu no Ceará em 1943 e foi para o Rio de Janeiro tentar a carreira religiosa no Seminário Franciscano de Petrópolis. Como frade não descobriu a vocação, pois sua música falou mais alto. Com apoio de religiosos seguiu carreira como um dos maiores compositores católicos do país. Suas canções são até hoje interpretadas em missas por todo o Brasil.

Em 2013 uma grande homenagem foi feita no Rio ao artista das canções sacras. Um tributo a Waldeci Farias foi prestado pelo serviço de divulgar a palavra de Deus por meio de canções. “Procuro abrigo nos corações”, preferida do Zé Roberto,  e outras como “Este pranto em minhas mãos”, “Sou bom pastor” e “Sobe a Jerusalém” estavam lá. Sem contar uma que me fez perder o medo de divulgar a palavra sacra através da música:

 

“Vem e eu te direi o que estás a procurar

A verdade é como o sol e invadirá teu coração

Sim, eu irei e aprenderei minha razão de ser

Eu creio em ti que crês em mim e a tua luz

Verei a luz...

 

Vem, e eu te farei da minha vida participar

Viverás em mim aqui, viver em mim é o bem maior

Sim, eu irei e viverei a vida inteira assim

Eternidade é na verdade o amor

Vivendo sempre em nós...

 

Vem que a terra espera quem possa e queira participar

Com amor na construção de um mundo novo muito melhor

Sim, eu irei e levarei teu nome aos meus irmãos

Iremos nós e teu amor vai construir enfim a paz.”

Letra: Pe. Josimar Braga

Música: Waldeci Farias

Waldeci se despediu e foi tocar piano e compor mais perto de Deus. Suas letras e canções me ajudam até hoje, quando toco nas missas, a crer sempre na luz. Sei agora que a verdade é como o sol. Minha razão de ser eu já descobri.  Ele mostrou Cristo a mim e ao Brasil. Não estou mais a procurar. Minha voz e violão fizeram da vida de Cristo participar.  Ser primeiro ou terceiro não faz mais a menor diferença. Não há nada que substitua a luz.

                                            Paço do Lumiar (MA) domingo, 13 de setembro de 2020 às 10h 57min 18s


Um comentário:

  1. Eu também fui ciminarista gosto de muito de músicas sacras ademiro muito quem.canta ou toca um estrumento eu só Seio desenha a cheio maximo essa tu vivencia na igreja muita sabedoria espiritual pro resto da vida

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