Em 1978 vim de férias para São Luís. Stênio, meu primo, cantava na noite em bandas de baile e alertou:
- Joãozinho, o reggae chegou para ficar.
Até onde eu sabia São Luís do Maranhão era terra de bumba meu boi. Não era mais. A Jamaica com inglês e tudo assumiu o lugar em uma terra outrora fundada pelos franceses. Paris continuava na França enquanto Kingston tinha se transferido para São Luís.
Comprovei tal mudança andando pelas estreitas ruas da capital com gente dançando coladinho com boinas de cores jamaicanas. Vi com espanto gringos e nativos petrificados diante de enormes radiolas. Eram as “pedras”. Nome dado ao som que vinha forte das caixas.
João Chiador tinha um concorrente de peso. Era Bob Marley e a letra de “Is this love” estava na ponta da língua de uma gente que parecia ter trocado o tambor onça, as matracas e os pandeirões por outro sotaque com guitarras deslizantes e cadenciadas dos adeptos do rei Marley. As rádios já tinham programação direcionada para as festas regadas ao som da Jamaica.
Ouvi cantores da noite arriscando um inglês jamaicano:
“I
wanna love you and treat you right
I wanna love you every day and
Every night We’ll be together with a roof
Right over our heads
We’ll share the shelter
Of my single bed
We’ll share the same room, yeah!
For Jah provide the bread
Is this love is this love
Is this love that I’m feeling...”
Impressionado com a presença jamaicana na única capital que não nasceu lusitana percebi claramente a globalização como conceito. Como o reggae chegou ao Maranhão? Como os maranhenses adotaram esse jeito de cantar, tocar e dançar próprios dos guetos jamaicanos?
A questão era única. O povo sofrido de lá encontrou ressonância no povo sofrido daqui. Peguei minha boina, um velho vinil do rei Marley e voltei para o Rio de Janeiro.
Quando desci na Rodoviária Novo Rio escutei nos altos falantes:
“I
wanna know wanna know wanna now
I got to know got to know... Ah , Ah, Ah..”
Paço do Lumiar(MA)
terça feira, 23 de junho de 2020 às 07h20min07s
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