Uma das canções mais intrigantes da minha adolescência foi uma do conjunto “Os Incríveis”. Era o grupo preferido da turminha da Rua Getúlio Vargas nas cantorias regadas a violão e muita farofa de calabresa, noturnamente preparada com ajuda de todos no João Paulo dos anos setenta na porta do Zeca, do violão do Milton e do saudoso Mano Pires. A casa dos Pires era o ponto de encontro todas as noites para jogar conversa fora e planejar as festas.
Era 1973 e com 13 anos eu ficava por perto boquiaberto com o jeito afinado da turma cantar e tocar uma música com frases em japonês. Como?
Pois é. "Kokorono-Niji" estava nas paradas e trouxe o Japão para passear no João Paulo. Os versos falavam de saudade deixada por um amor. Mas precisava ser tão longe assim? Logo no Japão.
Com arranjo totalmente oriental a letra assim anunciava:
“Saudade
é a lembrança
Do
amor que um dia deixei ali
Saudade
é nostalgia do Japão
Que
nunca esqueci
Boneca
linda dourada
O sol
que nasce vem me contar
Que
nos teus olhos iluminou
Duas
pérolas a rolar
Se
você não me esqueceu
Sei
que também vou lembrar
Do
abraço que te dei
Meu
bem
No
momento de voltar...”
“Itsuka
anata to musubareta hi ni
Dakishime
Daskishimete amaete it
No ne
watashinokokoro wa
Namida
de yureru kedo
Kanashii
chouchou wa
oozora
he kaeru
Saudade
é nostalgia
Do
Japão que nunca esqueci
Kanashii
chouchou wa
Oozora
he kaeru...”
Era uma canção de 1968 onde “Os Incríveis” esnobavam criatividade e musicalidade.
Como eles conseguiram? Fazer o Brasil que tem dificuldade histórica com o próprio idioma viajar pela terra do sol nascente cantando. Até hoje não sei se fomos nós a fazer arte com japoneses ou foram eles que vieram mostrar que a arte é universal e não conhece fronteiras impostas pelas geografias.
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