segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Na terra do sol nascente com “Os Incríveis”. “ Kokorono-Niji” vem ao João Paulo.

Uma das canções mais intrigantes da minha adolescência foi uma do conjunto “Os Incríveis”. Era o grupo preferido da turminha da Rua Getúlio Vargas nas cantorias regadas a violão e muita farofa de calabresa, noturnamente preparada com ajuda de todos no João Paulo dos anos setenta na porta do Zeca, do violão do Milton e do saudoso Mano Pires. A casa dos Pires era o ponto de encontro todas as noites para jogar conversa fora e planejar as festas.

Era 1973 e com 13 anos eu ficava por perto boquiaberto com o jeito afinado da turma cantar e tocar uma música com frases em japonês. Como?

Pois é. "Kokorono-Niji" estava nas paradas e trouxe o Japão para passear no João Paulo. Os versos falavam de saudade deixada por um amor. Mas precisava ser tão longe assim? Logo no Japão.

Com arranjo totalmente oriental a letra assim anunciava:

 

“Saudade é a lembrança

Do amor que um dia deixei ali

Saudade é nostalgia do Japão

Que nunca esqueci

Boneca linda dourada

O sol que nasce vem me contar

Que nos teus olhos iluminou

Duas pérolas a rolar

Se você não me esqueceu

Sei que também vou lembrar

Do abraço que te dei

Meu bem

No momento de voltar...”

 E a partir daqui o negócio complicava:

 

“Itsuka anata to musubareta hi ni

Dakishime Daskishimete amaete it

No ne watashinokokoro wa

Namida de yureru kedo

Kanashii chouchou wa 

oozora he kaeru

 

Saudade é nostalgia

Do Japão que nunca esqueci

Kanashii chouchou wa

Oozora he kaeru...”

Era uma canção de 1968 onde “Os Incríveis” esnobavam criatividade e musicalidade.

Como eles conseguiram? Fazer o Brasil que tem dificuldade histórica com o próprio idioma viajar pela terra do sol nascente cantando. Até hoje não sei se fomos nós a fazer arte com japoneses ou foram eles que vieram mostrar que a arte é universal e não conhece fronteiras impostas pelas geografias.

 A banda paulista tinha Mingo na voz e guitarra, Risonho na guitarra, Manito nos teclados, vocal e sax, Netinho na bateria e Neno no baixo. ”Os Incríveis” já eram em 1973 extremamente conhecidos , pois “O milionário” se tornou um clássico que toda banda de baile sabia fazer de cor. Outros clássicos com letra e não só instrumental que era uma especialidade aconteceram, mas essa do sol nascente ficou para sempre na minha memória.

 Até hoje fico impressionado com a canção que ensinou o Brasil a falar japonês. Hoje eu sei bem mais do que a manjada “Sayonara”. Ou será “Sayonará"? Eles sabem. Em tempo: “Kokorono-Niji” significa “Arco-íris azul”.

                                                                Paço do Lumiar (MA), sábado, 27 de junho de 2020 às 16h36min23s

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