sábado, 26 de setembro de 2020

“La question” com Françoise Hardy”. Uma francesa na trilha sonora.

Nas novelas que eu assistia na década de 70 as trilhas sonoras internacionais me chamavam muito a atenção. A música casava certinho com o enredo e os personagens. Geralmente eu associava a música ao personagem. Sabia de cor o refrão de algumas canções. Muitas em inglês. Em outras línguas era difícil. Assistir aos folhetins era o lazer maior depois da praia e do futebol. Decorar as músicas era fácil, pois se repetia em toda cena onde a personagem estivesse durante meses. Era assim minha rotina no bairro do João Paulo em São Luís naqueles dias no início dos anos setenta. Lógico que os estudos no Colégio Batista, tradicional e com fama de ser puxado exigia atenção e dedicação plenas antes de tudo.

Mas uma novela surpreendeu em 1972 ao colocar na sua trilha sonora uma canção em francês. Era “Selva de Pedra” com música em francês, raro para a época já que o inglês dominava o planeta. Acho que ali este novo momento estava chegando. A globalização das artes. Mas aos doze anos eu não sacava nada de globalização. Eu estava interessado era na música francesa que me impressionou pelo timbre e afinação da cantora, além da sensualidade de sua voz. O termo globalização que seria moda mais adiante sequer era mencionado em compêndios da época. Não que eu soubesse.

A música era “La Question” e a cantora Françoise Hardy. Era francesa legítima com sotaque e tudo. Vinha com um violão extraordinário na introdução e depois uma orquestração tendo um belo piano bordando as extremidades da harmonia. A parceria da cantora francesa com a guitarrista brasileira Tuca invadiu as rádios locais e brasileiras. O texto francês chegou assim na voz da moça francesa de olhos claros e jeito livre a começar pelos longos cabelos:     

 

“Je ne sais pas qui tu peux être

Je ne sais pas qui tu espères

Je cherque toujours  à te connaître et

Ton silence trouble mon silence

Je ne sais pas d’où vient

Le mensonge estce de ta la

Voix qui se tait

 

Les mondes où malgré moi

Je plonge Sont comme un

Tunnel qui m’effraie

 

De ta distance a lá

Mienne on se perd bien

Trop souvent et chercher à te

Compreende C’est courir

Aprés le vent

 

Je ne sais pas pourquoi

Je reste Dans une mer

Où je me noie

Je ne sais pas pourquoi

Je reste Dans um air qui m’ettouffera

Tu es le sang de ma blessure

Tu es le feu de ma brûlure

Tu es ma question sans rèponse

Mon cri muet et

Et mon silence.”

A cidade de São Luís traz até no nome a marca dos franceses. Única capital brasileira por eles fundada merecia da minha parte como ludovicense descobrir o recado dado na língua de Françoise Hardy. Como ficaria “A Questão” na língua de Camões:

 

“Eu não sei quem você pode ser

Eu não sei o que você espera

Eu procuro sempre conhecê-lo

E o teu silêncio perturba o meu silêncio

 

Eu não sei de onde vem a mentira

Será da tua voz que se cala?

Os mundos onde mergulho contra a minha vontade

São como um túnel que me assusta

 

Da tua distância até a minha

Nos perdemos frequentemente

E procurar compreendê-lo

É  como correr atrás do vento

 

Eu não sei porque continuo

Dentro de um mar onde me afogo

Eu não sei porque continuo

Nesse ar que me asfixia

 

Você é o sangue da minha ferida

Você é o fogo que me queima

Você é minha pergunta sem resposta

Meu grito mudo

E o meu silêncio.

Poesia por mim aprovada e música também. A questão agora era descobrir por onde andaria a francesinha que deixou o Brasil e o Maranhão apaixonados. Para quem ela teria direcionada uma antítese tão arrojada entre grito e silêncio? Eis aí “La Question”.

                                                      Paço do Lumiar (MA) sábado, 27 de junho de 2020 às 15h38min08s

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