O Reviver era o ponto de encontro dos artistas de todas as tendências na zona boêmia de São Luís. Refúgio dos amantes das delícias culinárias, escola de futuros admiradores de tudo que a noite oferece. Boa música, cerveja gelada e gente circulando para olhar e ser olhado.
Foi lá que descobri pela primeira vez a voz e o talento de um cara que de violão em punho e a voz no coração mandava o velho Roberto Carlos de um jeito novo.
Parei para ouvir. Era um desses barzinhos da moda chamado Maria Mariá, no coração da boêmia maranhense.
De boné, que quase parecia uma boina, e voz grave e forte o cantor começou a chamar a atenção pelo estilo meio Oswaldo Montenegro de transformar velhos sucessos em trabalhos inéditos.
Era final dos anos 80 e precisávamos de novos nomes na MPB. Comentei com Jorge Henrique, cantor com o qual dividi o palco várias vezes junto com o grande Roberto Rafa, que o rapaz era muito bom.
E era mesmo. Fiz uma profecia: esse rapaz será nome no Brasil em pouco tempo. Será um nome novo na velha MPB que já cansou da mesmice. Jorge, que fazia Djavan como ninguém, concordou.
Mesmo com nome de profeta não poderia supor que acertaria. O cantor sumiu e não foi mais visto. Dizem ter ido para o sul maravilha, como Ubiratan Sousa costuma dizer em conversas para dar uma espetada no pessoal que não respeita o povo aqui de cima. Mas é uma metáfora ou uma metonímia quem sabe. O que todo mundo sabe é que se você tem que acontecer, é melhor no Rio ou em São Paulo. Lá está o grande circo e as possibilidades. Esses estados geograficamente pertencem à Região Sudeste.
Ligo a TV nos anos 90 para assistir ao programa Sem Censura na antiga TVE (canal 2) e vejo Leda Nagle anunciar as atrações do dia. Entre eles o jovem compositor maranhense de nome José. Ele estava lá divulgando seu primeiro álbum “Por onde andará Stephen Fry?”. Com simpatia, elegância e inteligência logo a todos conquistou, apesar do mau humor inicial da apresentadora quando disse que era do Maranhão. Lembro-me da cena: pegou o CD, olhou, colocou de lado e perguntou: “E aí?”. José descascou a apresentadora quando disse que estava em São Paulo e andava na turma do estouradíssimo Chico César da Paraíba. A mulher pegou o CD de volta sorriu e se encantou.
Uma a uma suas músicas foram chegando ao Brasil na voz de grandes intérpretes. Mas uma se destacou e colocou fogo na MPB pobre de novidade. Na verdade como eu já havia profetizado. “Lenha” trazia versos simples e melodia fácil, mas foi suficiente para incendiar o Brasil e o colocar como um dos melhores compositores da nova safra.
Nas vozes de Simone e Ney Matogrosso “Lenha” viajou. Porém na voz da
também maranhense Rita Ribeiro, que hoje assina Rita Benneditto, a canção do
José aconteceu no Maranhão e no Brasil. Dona Yolanda, minha sogra baiana de
nascimento e carioca de vida, já conhecia e apreciava a cantora maranhense que
dava vida a jovens compositores vindos da terra de Gonçalves Dias.
“Eu
não sei dizer o quer dizer o que vou dizer
Eu
amo você, mas não sei o que isso quer dizer
eu
não sei porque eu teimo em dizer que amo você
Se eu
não sei dizer o que quer dizer o que vou dizer
Se eu
digo pare, você não repare
No
que possa parecer
Se eu
digo siga, o que quer que eu diga
Você
não vai entender, mas se eu digo venha
Você
traz a lenha pro meu fogo acender”.
Hoje quando chega nos grandes canais é anunciado como estrela de primeira grandeza. Compositor, cantor, instrumentista, criador de trilhas e diretor de espetáculos pelo Brasil e o mundo. Arari e o Maranhão vibram quando alguém anuncia: “Com vocês, Zeca Baleiro”.
Paço do Lumiar (MA), sábado, 20 de junho de 2020 às 06h11min22s
Parabéns meu amigo
ResponderExcluirObrigado amigo
ResponderExcluirComo é bom ver um talento de nossa Terra reconhecido por seu valor maestral. A arte precisa ser alimentada e novas gerações precisam de inentivo para continuarem levando nossos valoores artísticos e culturais adiante. Salve a música maranhense.
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