A impressão que se tem ao ouvir uma canção em inglês é uma só: foi feita por americanos. Muitos esquecem que The Beatles e Rolling Stones eram ingleses. Cantar em outra língua é chique dando status ao idealizador da façanha.
Em inglês, a língua do mundo, nem se fala. Lá pelos setenta estava na moda tal façanha e muitos cantores se atreveram a enrolar a língua e se arriscar em ganhar o mundo surfando na fonética do Tio Sam.
Muitos se americanizaram até no nome e caprichavam nas aulinhas de inglês para fazer bonito. Entre eles um me chamou a atenção. Pouco ou quase nada eu sabia do cantor que estava nas paradas de sucesso com uma música muita melodiosa e quase sonolenta para os padrões da época.
Eu tinha 14 anos e estávamos em 1974. Era época de Tina Charles, a inglesinha do barulho que botava todo mundo pra requebrar com os hits “I love to love”, “Dance little dance” e “You set my heart on fire”. Mas o romantismo das lentinhas também vingavam e foi por aí que o moço entrou.
Era Morris Albert e a música “Feelings”, suspirada até hoje pelos
sessentões nostálgicos, virou hit nacional e internacional indo parar em
personagem de novela global.
“Feelings,
nothing more than feelings
Trying
to forget my feelings of love
Teardrops
rolling down on my face
Trying to forget my feelings of love...”
Mesmo sem saber nada do que estava sendo dito muita gente se arriscava por aí. Inclusive eu, como se tivesse um peso na língua buscava o improvável: pronunciar latinamente o inglês britânico original.
Só que o cantor não era inglês, nem americano lá do norte. Era brasileiro. Com um inglês perfeito ou quase, o cara conquistou o Brasil e o mundo. Morris nasceu Maurício Alberto e era paulista.
O caminho estava aberto, mas os paulistas da banda Os Pholhas e os pernambucanos dos Trepidant’s já arrasavam corações. “She made me cry” e “Remember me” já estavam nas paradas. O inglês chegou e ficou. Eram todos “Made in Brazil”.
Paço do Lumiar (MA), sábado, 20 de junho de 2020 às 08h53min09s