O objetivo desse blog é relatar os primeiros contatos que tive com a música popular brasileira e mundial desde a mais tenra idade. O tudo que trago vem das primeiras impressões e audições a partir dos sete anos de idade completados em dezembro de 1967, no dia sete. Pelas ondas das Rádios Timbira, Gurupi, Difusora, Educadora e Ribamar tornei-me assíduo ouvinte dos programas musicais na São Luís do Maranhão ainda pacata, no populoso bairro do João Paulo, mais precisamente na pequena casa de dois cômodos onde eu e minha mãe Madalena cantarolávamos as canções românticas que destruíam os corações na Rua São Vicente de Paulo. O pequeno rádio de duas pilhas: amigo certo das horas incertas.
A primeira impressão veio com a voz aveludada e afinada de Agostinho dos Santos. Foi primeira voz a ser ouvida com zelo e admiração numa canção por título “Balada Triste”. Aprendi logo e em poucos dias lá estava o aspirante tentando imitar o mestre:
“Balada triste que me faz lembrar alguém, alguém que existe e que outrora foi meu bem. Balada triste, melodia do meu drama, esse alguém já não me ama esqueceu você também...”
Sempre gostei de prestar atenção no jeito de cantar dos artistas que eu ouvia e imaginando como seriam feitas aquelas belas canções. Os instrumentos, principalmente a voz e o violão, pareciam separados nas minhas observações de criança.
Ao cair da tarde começava o Programa Alegria na Taba na poderosa Rádio Timbira do Maranhão e lá estava Agostinho dos Santos de novo cantando uma faixa por título “A felicidade”. Violão e tamborim marcavam um samba diferente. Pequeno, ainda não entendia, mas falavam ser de um poeta carioca famoso cujos versos diziam:
“Tristeza não tem fim, felicidade sim. A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor brilha tranquila depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor.”
Chamava-se Vinícius de Moraes o autor dos versos que ecoavam muito bem na voz do cantor. Muito seria falado a seu respeito anos depois ao criar a Bossa Nova junto com o maestro carioca Tom Jobim que se uniu ao violão sofisticado do baiano João Gilberto. Agostinho com eles já estava interpretando e dando vida às canções destes mestres.
Meu sonho um dia era ver de perto o grande cantor e poder aplaudi-lo. Ao entrar em casa numa tarde de julho de 1973 minha mãe me disse: “filho, um avião caiu lá pras bandas da França e um dos passageiros era aquele cantor que você vive imitando”. O silêncio tomou conta da minha voz e do coração de 12 anos. Poderia alguém sobreviver a uma queda de avião? Os jornais traziam a triste notícia: uma das vítimas do trágico acidente em Orly, arredores de Paris, era de fato o cantor paulista Agostinho dos Santos. O Brasil inteiro triste cantou: “Orar é poder converter uma doce ilusão em milagre de amor”. Eu não.
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