Ao ser anunciada como campeã do Festival MPB SHELL produzido pela Rede Globo em 1981, a música “Purpurina” do compositor gaúcho Jerônimo Jardim foi recebida com uma vaia daquelas. Vaias mais fortes e provocativas foram direcionadas para a belíssima cantora carioca, loura e tímida, que foi anunciada como intérprete: Lucinha Lins.
Nem as lágrimas da cantora amenizaram o clima de insatisfação da enlouquecida turba. A preferida era outra: “Planeta Água” de Guilherme Arantes. Mas com a belíssima voz de timbre inquestionável, a cantora aos poucos meio assustada com a recepção foi dominando a plateia. Impôs a mais humilhante derrota às vais injustas, armada com uma letra formidável e um arranjo magistral. Uma bela voz feminina radiante de emoção cujas lágrimas iniciais deram brilho e afirmação ao seu talento.
Lúcia Maria Werner Viana Lins nasceu no Rio de Janeiro, e na Barra da Tijuca, na adolescência formou o MAU (Movimento Artístico Universitário), onde desenvolveu a paixão pela música e interpretação. Lá conhece o músico e compositor Ivan Lins. Mais tarde passa a assinar Lucinha Lins em função do seu relacionamento com o cantor. O acompanha em inúmeros festivais até chegar em "Purpurina" em 1981.
A canção me impressionou pela delicadeza do arranjo feito para a voz da cantora:
“Se
você pensa que vai me seduzir
Se
você pensa que vai me arrepiar
Pode
ser , mas eu sou feito purpurina
Se
uma luz não ilumina
Não
há jeito de brilhar
Se
você só chega por chegar
Nenhuma
lanterna no olhar
Nosso
show não pode acontecer
Sem o
palco se acender
Eu
não vou representar
Se
você pensa que vai me seduzir
Se
você pensa que vai me arrepiar
Pode
ser, mas eu sou feito bailarina
Se a
ribalta se ilumina
Fico
roxa pra dançar.”
Para mim foi difícil entender a falta de sensibilidade de uma multidão. Quem ali esteve e vaiou deve ter se arrependido. Não ouviu, mas viu a maior derrota. Com suavidade, elegância e personalidade as lágrimas justas enxugaram para sempre vaias injustas. A vitória foi do talento. Quem ouviu e viu saiu ganhando. As vaias dessa vez perderam. O tempo se encarregou disso. Hoje Lúcia e Jerônimo são amigos e tiram boas lições do dia em que a plateia se arrepiou de vergonha. A ribalta sempre se iluminará para a linda bailarina dançar.
Paço do Lumiar (MA),
domingo, 28 de junho de 2020 às 10h24min09s
Lembro bem desse dia, que ficou marcado pela atitude inesperada do público presente. Purpurina, interpretada pela talentosa Lucinha Lins, é sem dúvida uma linda canção. A canção apresentada pela Lucinha, acompanhada por esse piano magnífico certamente foi merecedora do prêmio. E não merecia ter sido tão rejeitada pelo público, que torcia pela, sem dúvida, impactante “Planeta Água”, de Guilherme Arantes. Foi uma atitude humilhante e desrespeitosa com a cantora e compositor de Purpurina, a canção vencedora. Eu mesma de casa torcia pela lindíssima “Planeta Água”, que enaltece esse elemento essencial à vida, seja humana, animal ou vegetal. Uma letra belíssima, interpretada fervorosamente pelo cantor e compositor Guilherme Arantes, que caiu no gosto quase que completo do público que acompanhava o festival. E hoje assistindo ao programa É de Casa, a atração musical foi o Guilherme Arantes, e pude assistir em uma de suas entradas a belíssima Planeta Água. Coincidência ou não, ao acessar depois de muito tempo o blog Impressões Musicais, vejo seu comentário a respeito do festival que nos trouxe as canções Purpurina e Planeta Água, e lembranças desse desfecho inesperado, não pela vitória de Purpurina, e sim pela reação despropositada do público presente ao evento. Adorei esse seu texto com as impressões musicais sobre Purpurina, parabéns!!!
ResponderExcluirÉ lógico que depois de ler suas impressões sobre Purpurina, fui ao Spotify e busquei pela canção, que já está fazendo parte da minha playlist.
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