Imprimir sentimento às palavras é uma tarefa fácil? Para quem é mortal talvez, mas não para os poetas. A imortalidade os transformam em seres especiais. Em 1971, conheci na escola fundamental um texto que tematizava o amor. Era atribuído a uma poetisa, mas em canção chegou aos meus ouvidos na voz de Milton Nascimento um pouco depois.
Tinha 11 anos e de amor pouco sabia. Sentimento complexo para quem ainda nem tinha sequer se apaixonado. Era “A noite do meu bem” de Adiléia Silva da Rocha e transformada em canção, o texto poético levou o amor para muitos ouvidos até chegar ao coração.
Toda uma geração de românticos foi atingida em cheio pelos versos que diziam:
“Hoje
eu quero a rosa mais linda que houver
Quero
a primeira estrela que vier
Para
enfeitar a noite do meu bem
Hoje
eu quero paz de criança dormindo
E
abandono de flores se abrindo
Para
enfeitar a noite do meu bem
Quero
a alegria de um barco voltando
Quero
ternura de mãos se encontrando
Para
enfeitar a noite do meu bem
Ah!
eu quero amor o amor mais profundo
Eu quero
toda beleza do mundo
Para
enfeitar a noite do meu bem
Ah!
como esse bem demorou a chegar
Eu já
nem sei se terei no olhar toda a pureza
Que
eu quero lhe dar”.
A menina de 10 anos que já enfrentava palcos sérios cantando e encantando os jurados cresceu. Virou uma grande cantora e imortalizou o amor. Saiu do bairro da Saúde no Rio para morar em definitivo no coração de todos os amantes. Precocemente nos deixou e a fossa das letras e das canções que interpretava contrastavam com a alegria que os íntimos dela relatavam. Dizem que em 1959 a solidão a levou.
Todos que cantavam seus versos não sabiam que Adiléia era a identidade real de outra pessoa. No Beco das Garrafas, em Copacabana, berço da Bossa Nova onde sua voz encantava e seus versos viravam música, ela tinha outro nome. Todos a conheciam como a dama do canto e dos versos e a chamavam de Dolores Duran.
Paço do Lumiar (MA), sábado, 20 de junho de 2020 às 20h32min09s
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