terça-feira, 16 de junho de 2020

Parnamirim apresenta o som de Pernambuco: Banda de Pau e Corda

Em novembro de 1976, quando batia uma pelada com amigos na Rua Caiapó, quase à noitinha, vejo uma pessoa que parecia conhecida aproximando e chamou-me pelo nome. “Joãozinho, onde fica a casa do seu Josué seu tio?”. Espanto porque poucos assim me chamavam; só o pessoal do Maranhão e surpresa por ser o Olival, meu cunhado, que há anos não via. Sabia que estava morando com minha irmã mais nova lá pras bandas do Rio Grande do Norte. Na Caiapó, rua das peladas noturnas no Lins de Vasconcelos, a turma se despedia para novo encontro no dia seguinte. Era noite no Rio de Janeiro e já estava na hora de para casa voltar.

Morava com meus tios e ao retornar ouvi uma proposta do Olival que era militar da Aeronáutica. Ia fazer um curso no Rio e precisava de alguém para ficar com minha irmã no Rio Grande do Norte, pois tinham filho pequeno. Aceitei na hora, pois estava sem escola e trabalho no momento e vislumbrava uma possibilidade.

Quando percebi já estava no Santos Dumont dentro de um avião rumo a Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Encontrei minha irmã e meu sobrinho. A cidade era uma belíssima vila militar e se orgulhava de ter sido útil na 2ª Guerra Mundial. O engraçado é que parte dos moradores chamavam a cidade de Eduardo Gomes, um brigadeiro famoso. Parnamirim ficou na memória.

Olival voltou do Rio e pediu que eu ficasse mais um pouco até dezembro. Em Parnamirim mostrou-me um vinil de um grupo da sua terra: Banda de Pau e Corda. Olival é pernambucano de Petrolândia. A Banda pernambucana fazia um som com violas, flautas e percussão com sotaque característico do lugar e um repertório autoral recheado de recados regionais. A música que mais me impressionou foi uma que falava de Lampião, o rei do cangaço. Quando morava em São Luís já havia escutado algumas vezes, entretanto não sabia quem interpretava. A voz e os instrumentos de percussão tinham na flauta um lamento que fazia a lágrima descer. Parecia uma oração. Começa com um violão de primeira com um solo de violas ao fundo:


“Ei, cangaceiro, onde mora Lampião?

Mora junto de São Pedro e contando a região.

Sertão, meu sertão, onde está Lampião?

O famoso cabra da peste e Maria sua paixão.

Nasceu na terra de valente.

Você recado de gente de cara valente que nem Lampião

Não tem nem mais cavalo e nem sela e seu maço de vela já parou de queimar...”

 A partir daí entra um som típico das regiões nordestinas com pífaros, violas, violões e instrumentos de percussão muito usados no sertão como sons de pássaros. Uma obra de arte.

Voltei para o Rio depois de agradecer a oportunidade de conhecer Parnamirim, ou como queiram Eduardo Gomes, e rever minha irmã piauiense, meu cunhado pernambucano e meu pequenino sobrinho maranhense e ficar impressionado com o som da tal banda.

No caminho para o aeroporto, no velho fusca verde do meu cunhado, ouço Adelson Alves da Rádio Roquette Pinto do Rio anunciar: “Vocês ouviram a belíssima 'Flor d’água' com a Banda de Pau e Corda de Recife”. Olhei para Olival e disse: “essa você não me falou”. Discreto e de poucas palavras ele respondeu: “E deu tempo?”.

Depois disso nunca mais voltei ao Rio Grande do Norte. Já em casa no Rio olho pro meu irmão mais velho um pouco e de poucas palavras, porém piauiense: “Você já ouviu falar da Banda de Pau e Corda?”. "Banda de Pau e quê?", retrucou e eu disse: "de corda". O não veio como resposta rápida tipo bala de bandido nos velhos filmes de faroeste.

Um dia disse que ia casar e já tinha um destino. Pensei Teresina, São Luís ou quem sabe ficar aqui no Rio mesmo.

Anos depois ele se casou. A moça era pernambucana. Separou e depois se casou pela segunda vez com outra pernambucana. Hoje mora em Recife onde curte a mulher e o filho pernambucano.


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