Entre a turminha que se reunia aos sábados na Baronesa de Uruguaiana, 42 no Lins de Vasconcelos no Rio de Janeiro ao final da tarde, o papo não era outro. Garotas, músicas novas no violão e os nomes que estavam na moda. Pouco ou quase nada se sabia direito dos caras que dominavam as guitarras e levavam as garotas ao delírio.
A maioria tinha 14 anos e os mais velhos já tinham completado 17. Cada um mostrava o que tinha aprendido durante a semana para se exibir nas cordas e impressionar a galera e quem sabe as garotas.
No grupo de jovens da Paróquia São Jaime um nome começou a circular nos suspiros femininos. De ouvidos ligados nelas se sabia que um cara louro, cabeludo de voz aguda, roupas brilhantes e guitarra vibrante: fazia sucesso.
Com pesquisa digna de um FBI descobrimos que era um americano e que quando jogava a longa cabeleira para um lado e para o outro levava as meninas junto. Era Peter Frampton e as garotas cantavam em coro: “Shadows grow so long before my eyes and they’re moving across the page Suddenly the day turns into night far away, from the city but don’t hesitate cause your love, won’t wait ... Oh, baby I love your way...”.
Uma ponta de inveja e admiração apareceu no coração e nos dedos da turma. Alguém desdenhou: “sou mais Jimi Hendrix”. Com uma ignorância de chorar outro falou: “Esse aí é louro também? Toca guitarra? É americano? Tem algum sucesso estourado? Onde vive?”.
O cara era inglês, tocava a guitarra até de costas para as cordas e era negro. Jimi não era o melhor. Segundo se apurou depois era o maior. Era, pois já não estava entre nós. Morreu precocemente, dizem alguns aos 27 anos no início dos anos 70. Mas o ano que estávamos era 1977.
“Hey, Joe” era estourada em todos os cantos do planeta. Os caras mais velhos, de 18 para frente, já sabiam disso, da existência de Hendrix e mandavam no violão:
“Hey, Joe where you goin’ with
that gun of your hand?
Hey, Joe, I said where you goin’ with that gun in your hard, oh...”
Não convenceu. Nós queríamos tocar mesmo era igual ao tal Peter, pois era dele que as garotas de 14 anos, até no máximo 18, gostavam. Era onde estávamos. Era a nossa geração. O outro parecia um ser improvável e difícil de ser imitado. Não com tal qualidade. Mal sabíamos fazer a introdução de algumas músicas e longe estávamos. Tudo que era festinha lá tinha um coro feminino:
“I
wonder how you’re feeling There’s ringing in my ears
And no one to relate to ‘cept the sea, Who can I believe in...”
Eu tinha 16 anos e o violão que eu tocava nas missas precisava ser aprimorado. Comecei a pesquisar o som do Peter. Descobri uma canção estilo romântica que me marcou para sempre e tinha mais a ver com a sonoridade que buscava. Bati cada nota até o dedo sangrar:
“I
don’t care where I ago when I’ m in with you
When
I cry you don’t laugh Cause you know me
I’m
in you - You’re in me
I’m
in you – You’re in me
Cause
you gave me the love
The love
that I never had Yes you gave me the love,
The love
that I never had
You
and I don’t pretend, we make love.
I can’t feel anymore than I’m singing...
O tempo deslizou e não namorei ninguém da São Jaime. Hendrix, mesmo nos deixando em 1970, ainda faz o cabeção dos roqueiros. Peter desafia a guitarra tão bem quanto outrora e continua na estrada com grisalhos curtos.
Eu continuo tocando violão e sangro o dedo atrás
dos acordes mágicos de “I’m in you”. E para finalizar: Hendrix era
norte-americano de Seattle, fã do rei do rock Elvis Presley e fez muito sucesso
na terra dos Beatles onde viveu grande fase de fama e desencontros.
Meu Deus, agora voltei no tempo e me vi entre essas meninas tietes do Peter Frampton. Mas, sem dúvida nenhuma, Jimi Hendrix é lendário, genial e se eternizou.
ResponderExcluir